Por Almir Nahas (*)
Para o mundo funcionar bem, só precisa de duas leis: a lei da gravidade – a número 1 – e a lei do mínimo esforço – a número 2. A primeira se impõe, mas a segunda precisa ser estudada, reconhecida e praticada.
Se o ser humano respeita ambas, a vida é mais fluida, mais plena e mais generosa.
A lei da gravidade se impõe. Graças a ela conseguimos ficar em pé, aprendemos a andar, a chuva cai e as árvores crescem. O giro da Terra, o fluxo sanguíneo, a arte do malabarista, a graça do pula-pula, devemos muito à esta força impositiva, poderosa e onipresente. Ela basicamente está associada ao equilíbrio, ao centramento, à sincronização do indivíduo com o ritmo e os ciclos da natureza.
Já a lei do mínimo esforço está longe de ser uma unanimidade, e ela não se impõe, às vezes nem se mostra de maneira óbvia. Ninguém leva um tombo se a contraria. Experimente contrariar sua companheira tão famosa e universalmente estudada. É tombo na certa! A lei do mínimo esforço não, ela não se revela facilmente, requer alguma percepção mais apurada, uma boa dose de livre pensar e experiência de vida.
Chega a ser mal compreendida, associada à preguiça, à omissão, ao descaso, à desonestidade e à vida fácil. É uma injustiçada! Por isso mesmo precisa ser melhor estudada, para que sirva à vida segundo seu verdadeiro e nobre significado, que faz com que seus pesquisadores e praticantes sejam mais efetivos, agudos e precisos em suas ações.
O melhor lugar do mundo para se fazer aquilo que nos cabe fazer é nosso próprio lugar. Quem nos permite reconhecer este lugar e nos manter nele é a lei número 2. Cientes de nosso lugar e de suas possibilidades, fazemos aquilo que nos cabe fazer, nada mais.
Os cansados, reclamões, pidões, exigentes, indignados, excludentes e rancorosos não conhecem a lei número 2. Se esforçam muuuuito, muuuuito mesmo, demais, para ser reconhecidos como bons, como heróis, dão aquilo que acham que alguém precisa sem que o outro peça ou sequer aceite. Depois requerem o reconhecimento pelo que fizeram, mesmo que tenha sido em vão. Os que tem absoluta certeza que sua felicidade também desconhecem essa lei. Se fizessem um mínimo esforço para sair do lugar de vítima, veriam como a vida pode ser mais leve, fácil e plena.
Os bons praticantes de artes marciais, os campeões, estes usam as duas leis com maestria. Os melhores capoeiristas são habilidosos, capazes de manter o equilíbrio mesmo em situações delicadas, e escolhem sempre o mínimo e exato movimento entre a esquiva, a defesa e o ataque.
Os grandes sábios não abrem mão delas. Suas palavras e atitudes podem inspirar grandes multidões, promover grandes mudanças, sem que eles se movimentem além do necessário. Os sábios nem levantam a voz para serem ouvidos, salvo quando estão diante de uma grande audiência e o microfone deu problema. Quem reconhece os movimentos naturais da vida e age para promover as mudanças em sintonia com o tempo e o bom entendimento daquilo que é necessário e inegável (número 1) e daquilo que é possível (número 2).
A número um é Força, a número 2 é Luz. Uma não abre mão da outra. Ambas se completam. Ambas me ensinam a prudência, o respeito, a consciência de minha pequenez diante de tanto que há para se fazer. Ao mesmo tempo, me animam a fazer tudo o que eu puder. A cada dia que eu tenho o direito de me levantar da cama (graças à número 1), eu me disponho a fazer a minha parte (com a clareza da número 2). Mínimo esforço está longe de ser esforço algum. Se a tarefa lhe parece grande demais, se a meta parece inatingível, conte com a número 2. Se não dá pra fazer sozinho, junte gente, pouco a pouco, passo a passo. Afinal, dois mais dois é sempre mais que quatro. Porém, se está pensando em desistir, se abrace com a número 1 e toque seu barco adiante, enquanto tiver o direito a um dia de vida, erga-se alto ao céu e faça sua parte. Mas só a sua parte, para não reclamar no fim do dia!
(*) Facilitador sistêmico, palestrante e consultor