Por Almir Nahas(*)
Um grande ganho do conhecimento sobre leis sistêmicas descobertas por Bert Hellinger e sobre como elas contribuem para a paz e o equilíbrio é a clareza do lugar de cada um de nós no ciclo da vida.
A Constelação Familiar facilita ao ser humano um passo essencial: tomar posse de sua própria vida e ocupar plenamente esse lugar. Embora pareça algo óbvio, o movimento de tomar a própria vida não se dá automaticamente quando nascemos.
Todo aquele que vai pela vida levando consigo restrições e julgamentos em relação à sua própria história ainda não deu esse passo. Os queixosos da própria sorte estão passando pela vida, mas ainda longe da plenitude.
Todo aquele que olha para o que lhe faltou ainda espera que, de alguma forma, alguma outra pessoa (a esposa, o patrão) se responsabilize por sua felicidade, assim como seus pais são os responsáveis por sua infelicidade. Todo aquele que abraça sua história com realismo não tem o que perdoar, exigir, lamentar. Pega sua mochila e vai fazer sua trilha.
Aquele que se reconhece como ser sistêmico vê a si mesmo como parte de uma longa história, fácil ou difícil, uma história que foi como foi e é como é. Ao dizer SIM a tudo como foi, a pessoa abandona seu estado emocional infantil e, como adulto, abre-se para expressar, ao longo da jornada, o seu poder pessoal. O começo é o reconhecimento do que foi herdado de sua história ancestral e que é ampliado pela experiência individual, que inicia com o nascimento no seu núcleo familiar: pai, mãe, irmãos.
Quem tem a capacidade de colocar generosamente seu poder pessoal naquilo que faz, serve à vida com humildade. Não teme desafios, apenas trabalha para vencer.
Aquele que acessa seu poder pessoal respeita tudo o que se passou, incluindo dores e privações, sem se apegar a desejos de reparação. Diz SIM aos seus limões e decide o que fazer com eles.
O adulto que tomou posse de sua vida não depende de elogios, motivações externas, tapinhas nas costas, curtidas e seguidores.
Quem acessa seu poder pessoal o faz sem esforço. Simplesmente é. Quem vive buscando o que faltou se esforça arduamente para agradar, cobra reconhecimento e vive como quem atravessa um deserto, cobrando uma dívida que ele acha que a vida tem com ele.
O poder pessoal não se confunde com a capacidade de influenciar, a importância ou a auto importância. As expressões perceptíveis para quem acessa seu poder pessoal são os sentimentos desprovidos de interesse: a paz interior, a humildade, o desapego de críticas ou elogios, o genuíno interesse e respeito pela verdade do outro, a generosidade, a compaixão…
Ocupando seu lugar na vida e somente o seu lugar, a pessoa expõe seus talentos com franqueza, com simplicidade. Abre-se para que a vida lhe dê muito, sem medo da abundância. Quem vive assim é bem diferente do tipo de pessoa que se acha o máximo.
Vibrar seu poder pessoal não é “se achar”. Quem “se acha” veste uma roupa poderosa, assume um discurso poderoso, mas não vibra toda a plenitude de sua essência.
O exigente fica indignado, se revolta, faz postagens iradas e promove abaixo-assinados. Produz fogo de palha, faz barulho e agita.
Quem está centrado em sua essência e a partir dela permite que seu poder natural se manifeste, com coragem e humildade, não faz nada para exibir, para agradar ou para ganhar likes. Faz porque naturalmente pode fazer, faz com toda a sua força, seu amor e sua fé. E assim vê sua ação ressoar genuinamente em outros seres e torna-se semente de um vasto plantio, pouco a pouco, sem mesmo estar preocupado com isso. Apenas não bloqueia que isso naturalmente aconteça.
Conhece-te a ti mesmo, diz o ditado milenar. Conhecer e tomar posse de si mesmo não é tarefa fácil, que se cumpre com um workshop ou algumas leituras e cursos. É uma jornada. Mas só de se colocar disposto a fazer a jornada, a pessoa já começa a ver as mudanças, primeiro em si mesmo. E logo, ao seu redor.
Ao se harmonizar com sua origem e sua história, começa a ver a si como o único responsável por sua felicidade. E reconhece quanto essa felicidade inclui a presença de outras pessoas, pois reconhece a humana necessidade de sentir-se parte de um grupo, uma família, uma coletividade.
Não espera que nenhuma outra pessoa faça por ela aquilo que só ela mesma pode fazer. O ser sistêmico estabelece vínculos saudáveis, trocas enriquecedoras e promove União. Não teme a solidão, pois reconhece o óbvio: ninguém é uma ilha, assim como ninguém é tão importante assim, da mesma forma que ninguém é dispensável. Eu tenho meu lugar e cada um tem seu lugar.
(*) Jornalista, facilitador e instrutor de Constelações Familiares e Organizacionais