Por Almir Nahas(*)
Muita gente diz coisas sobre si mesmo sem refletir. Vira e mexe a gente ouve alguém dizer:
“Estou correndo atrás do prejuízo.” Pensando bem, tem muita coisa melhor para se correr atrás e alcançar, né mesmo? A lista de frases inadequadas é imensa: “quem nasceu pra ser jumento não pode ser alazão”, ou “o pão sempre cai com a manteiga para baixo”, “eu tenho o dedo podre”. E daí acontecem coisas e a mesma pessoa diz: “Eu mereço!”, querendo na verdade dizer: “Eu não mereço!” Na verdade, bobagem, porque se aconteceu comigo, é poorque mereci. Mesmo que as razões do tal merecimento sejam um mistério para o azarado ou para o sortudo. Para falar dos outros, a pessoa diz: “Esse nasceu com o bumbum virado pra lua!”, com aquele sentimento disfarçado, que no fundo é inveja da sorte alheia. É, ou não é?
A importância desse tipo de fala sobre si mesmo ou em relação a qualquer outra pessoa é que a Palavra revela e ao mesmo tempo direciona o pensamento. E todo o movimento, toda a ação, começa pelo pensamento. Como disse o genial Lupicínio Rodrigues numa antiga canção, “o pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar?” Pois é. Aprendi a tomar cuidado com o que penso e com o que digo. Pensar, falar, escrever, são movimentos vibracionais que provocam vibrações, primeiro em mim mesmo, depois naqueles que são tocados pela vibração que eu emito. Somos seres vibrantes em constante comuicação vibracional.
Hoje quero pegar no pé de quem costuma dizer, diante de uma perspectiva maravilhosa, a famosa e infeliz frase: “É muita areia para o meu caminhãozinho.” Quem diz isso sobre si mesmo diante de uma oportunidade já desistiu sem nem tentar. Que pena!
Na adolescência, conheci um camarada que preferia sempre dizer: “quem não arrisca, não petisca.” Não é a melhor coisa a se dizer, mas pelo menos já deixa aberta a possibilidade de dar certo! Nos bailes da vida, ele sempre tirava pra dançar as meninas mais bonitas, às vezes mais velhas e mais altas que ele. Nem sempre dava certo, é verdade, mas muitas vezes ele teve sucesso. Dançava com a mais bonita. Certamente, se casou com uma bela moça.
Então vamos lá: a ideia de se achar pequeno diante de uma boa oportunidade e de nem mesmo tentar, nem mesmo sonhar com a possibilidade, é uma postura diante da vida que revela uma autoimagem depreciativa. Como assim, “caminhãozinho”? Como assim, “muita areia”?
Se Luiz Gonzaga pensasse assim, não teria se tornado o Rei do Baião. Se Cora Coralina pensasse assim, não teria escrito nem a primeira poesia.
Pra começar, vamos banir o diminutivo ao falar de si mesmo, ou mesmo pensar em si. Caminhãozinho uma ova!
Segundo: esteja pronto para usar todos os seus recursos diante dos objetivos, das metas e desafios, ou mesmo daquelas oportunidades inesperadas que fazem brilhar os olhos, mas que por nem tentar, você mesmo elimina todas as suas chances.
Você já deve ter visto uma criança engatinhando que começa a querer subir escadas. Imagine se ela pensasse: é muita escada para minhas perninhas! Ela jamais conseguiria. Mas o que a criança faz? Tenta, repete, insiste, procura um jeito. Tem aqueles pais que ficam por perto assistindo o esforço da criança, para que ela não se machuque na queda. E tem aqueles que nem deixam a criança tentar, certo? “Vai cair, menina!”
Tá bem, pode ser que a ideia maluca de que você é um caminhãozinho venha desse tempo, quando seus pais faziam o que fizeram, diziam o que disseram, e isso pode ter tido alguma influência sobre você. Mas, vamos pensar juntos. Quantos anos você tem hoje? Será que ainda está culpando seus pais pela sua falta de coragem? Vamos acordar para a vida! Da próxima vez que você se deparar com uma carga preciosa, entusiasmante, como aquelas “ideias mirabolantes” do tipo: estudar fora do país, inscrever-se num concurso para passar e não para ficar enrolando… Pare e pense um pouco: o que será que preciso fazer, como preciso fazer, para dar conta dessa preciosa carga? Faça o máximo com o equipamento que você ganhou com a vida. A felicidade só chega para quem vai na direção dela.
Vai ver, como na história do patinho feio que era um cisne, você não é um caminhãozinho, é um avião que não sabe ainda o que é…
(*) Almir Nahas é jornalista, palestrante e professor de constelações familiares e organizacionais.