É preciso cuidar do amor das crianças
Almir Nahas, facilitador de Constelações Familiares
Ao nascer, somos totalmente dependentes de nossa mãe. Sem ela, que nos gerou e que nos acolheu em seus braços, corremos o risco de não conseguir sobreviver.
Junto a ela, o nosso pai, dependendo de como são as relações entre eles, torna-se a segunda pessoa mais importante para nós, por nós mesmos mas principalmente quando percebemos como ele é importante para nossa mãe. Essa relação de total dependência, no início da vida, desenvolve em nós um amor sem restrições.
Na primeira infância ainda não fazemos julgamentos, não enxergamos fragilidades ou sinais de imperfeição em nossos pais. Mesmo que não nos lembremos disso hoje, um dia, no comecinho da vida, era assim.
Graças a esse amor, esse vínculo profundo, quando começamos a perceber que nossos pais não são perfeitos, que precisam de ajuda, inconscientemente nos colocamos a serviço deles, e nos intrometemos ou somos envolvidos. Se minha mãe parece triste, eu trato de alegrar. Se parece ausente, eu me esforço para ela estar por perto, mesmo que seja dando trabalho ou adoecendo. Se um dos dois parece que quer ir embora, eu me esforço para tentar evitar que isso aconteça. Se um deles se apoia em mim, eu dou meu apoio. Eu preciso deles!!
O passo seguinte é o início da instalação de algumas dificuldades que podem acompanhar a criança por muitos anos, ao longo da vida adulta. E inúmeras pessoas que chegam para fazer uma Constelação Familiar estão enredadas em situações que se instalaram na infância. Amor sem Ordem é a origem de muitas dificuldades. Por se julgar capaz de “salvar” seus pais de seus destinos, a criança se acha maior do que ela é. E começa a fazer julgamentos, começa a pensar que sabe o que é bom para eles, até mais do que eles mesmos. E esses julgamentos criam restrições na relação da criança com os pais. “Eu amo meus pais, mas tem algumas coisas que eles pensam e fazem que estão erradas”. E a criança passa se achar inconscientemente, “maior” que seus pais.
Quando adultos, podemos estar mais atentos a essas dinâmicas ocultas, que podem estar na raiz de barreiras vividas no momento presente. Dificuldade para se realizar profissionalmente, dificuldades para construir relacionamentos afetivos satisfatórios, desmotivação, dificuldade para levar a bom termo seus projetos pessoais e diversas outras insatisfações. São temas muito frequentes nas Constelações Familiares.
Se já temos filhos, torna-se mais necessário ainda reorganizar seu olhar para seus próprios pais. Deixar com eles o peso e o destino que é deles, para assim evitar transferir para nossos filhos uma carga emocional que não é deles e que não precisam, de fato, carregar.
Ao colocar em ordem sua relação a seus pais, eles se tornam, aos nossos olhos, grandes novamente, como deve ser. E isso nos faz mais disponíveis, mais inteiros, para dar conta de nossos próprios assuntos adultos, sem precisar “preocupar” nossos filhos com assuntos que não sejam deles.