A espiritualidade nas organizações
Por Almir J. Nahas
Quando olhamos para trás, e identificamos quais os melhores exemplos que tivemos ao longo de nossa carreira, começando da nossa formação escolar, nos encontraremos com pessoas inspiradoras, motivadoras, verdadeiros mentores que passaram por nossa vida e nos deram exemplos de competências essenciais.
Profissionalismo, disciplina, capacidade técnica, inteligência, entre outras, mais visíveis no mundo do trabalho, são sem dúvida essenciais, e nos inspiram. Mas um olhar mais atento pode reconhecer que talvez tenham passado por nossa vida com essas mesmas competências bem desenvolvidas, mas não deixaram tanta saudade. As pessoas que mais nos tocam, que podemos chamar de mestres, agregam a virtudes racionais alguns valores espirituais (sem qualquer conotação religiosa) que nos permitem ver o ser humano de maneira mais integra e profunda.
Generosidade, paciência, companheirismo, senso de justiça, valores muito menos tangíveis e muito menos relacionados diretamente com resultado, desempenho, metas, prazos, acabam por constituir a alma que preenche e que promove um ambiente em que o aprendizado é favorecido, a cooperação pelo bem comum é natural, a preocupação com o outro não é apenas uma gentiliza, mas fruto da consciência de que se alguém da equipe não está bem, isso é importante para todos.
A espiritualidade reside na ética, no propósito da organização, no respeito aos limites alheios e aos próprios limites. Faz com que o resultado não seja um fim em si mesmo, mas um meio para continuar crescendo e aprimorando sua ação e sua presença no mundo.
Com a lente da espiritualidade, da intangibilidade, pode-se ver que as empresas não existem para gerar lucro. Existem para servir à vida. Claro que, sem lucro, a empresa caminha para a estagnação e morte, mas a empresa cujo gestor lança seu olhar para mais além do lucro (lucro para quê?)
Cada vez mais, nos velozes movimentos da nova economia, se faz necessário o reconhecimento de que, para além da “fazeção” do dia a dia, existe um nível de interação em que o intangível é o que explica fracassos e sucessos. Efetividade rima e se completa com afetividade. Deadline com bom humor. Esforço extra com saúde física e emocional. A percepção de que, numa empresa, ou um projeto, todos estão ligados e todos os agentes (ou steakholders, para ficar no jargão corporativo) estão conectados e o equilíbrio nas relações é que traz a perenidade do negócio, não o lucro por si só. Empreendedores, colaboradores, fornecedores, concorrentes, clientes, comunidade, todos estão ligados. Todos podem estar bem, ensinando e aprendendo uns com os outros, promovendo trocas prósperas e engrandecedoras.
Não se trata de abrir mão das competências técnicas, da inteligência ou do profissionalismo. Trata-se de reconhecer que tem muito mais além disso que nos faz lembrar de um mentor, um líder, um mestre.
(*) Almir J. Nahas é jornalista, facilitador e treinador de Constelações Familiares e Organizacionais